Apresentaram-me
um livro de histórias de Edgar Allan Poe. Gostei muito. E acabei lembrando de histórias (algumas de assombração), que tenho manuscritas de um tempo em
que eu usava livros atas, para fazer diário e registrar, mais no
gênero de crônicas. Digitalizei algumas e vou postá-las aqui, aos poucos. Não mudei quase nada, fiz pequena revisão. Esta eu escrevi em 2006, é memória da minha infância. (Clau)
A CASA MAL ASSOMBRADA
Não foi possível conseguir
um imóvel para alugar na cidade pacata, silenciosa e “morta”, de São José dos
Campos, na década de 70.
Mas, a família teria mesmo que se
mudar de Santo André, cidade metropolitana de São Paulo, para o Vale do Paraíba. Motivos de trabalho: O pai da família, fora transferido para a filial da montadora automobilística. Empresa
multinacional, que oferecera ótimas oportunidades para quem aceitasse essa empreitada:
Mudar para o interior.
São José dos Campos no início da
década de 1970, não tinha demanda de receber novos moradores. Era uma cidade
que possuía alguns bairros, antigos, ocupados por proprietários, um centro
comercial urbanizado, com pracinhas e enormes árvores centenárias. O restante eram as áreas rurais
e alguns pontos ocupados por indústrias, que iniciavam suas atividades,
prenunciando um futuro desenvolvimento tecnológicos.
Apesar da distância, o jeito foi alugar um imóvel em Taubaté, que era cidade universitária e possuía um
perfil mais receptivo para novos moradores.
Cidade do Saci! Bem, mas, isto não
vem ao caso.
Era um casarão. 14 cômodos,
desocupados há tempo. A proprietária foi logo avisando. “É o seguinte: Ninguém quer
morar ali, nem eu mesma, pois a casa está mal assombrada!”.
Nas
dependências daquele imóvel desenvolvera-se um passado triste. Uma tragédia.Um jovem suicidara-se, por
não suportar o fim do amor de sua amada...
Risos por parte dos futuros
moradores: "Imagine. Coisas do interior mesmo!" Diante da dificuldade em
encontrar outro imóvel e, da urgência em mudar. Com fantasma ou sem fantasma, vai essa casa mesma!
E mudei-me com meus pais,
para aquela enorme casa, cheia de cômodos vazios. Situada em Taubaté, na Rua
Barão da Pedra Negra, onde talvez tenha acontecido uma das mais ricas
experiências fantasmagóricas e talvez, fantasiosas de minha infância: A confidencial
e singela amizade de uma menina com seis anos de idade e um fantasma adolescente, romântico, suicida e eternamente apaixonado.
CLÁUDIA REGINA LEMES (2006)