(
Escrita a partir do conto de Malba Tahan
(Uma fábula sobre uma fábula.) Fonte: Minha vida querida. Tahan, Malba. Rio de Janeiro: Conquista, 1957, p.93-98.
Que se faça a mulher!
E Deus criou a fantasia,
por analogia:
Entrar num palácio a Verdade quis.
Sempre
cristalina, porém aprendiz.
Buscou
em silêncio, lá em seu país:
Mais alta
colina foi sua diretriz
A
verdade-nua em transparente véu
Como a
linda lua brilhando no céu
Solicita
a entrada a um guardião
Em imensa
casa falar ao sultão
Foi “Não!” a resposta: Aqui
neste castelo,
Entrar Verdade, assim nua
e crua?
Fez então aos guardas logo
seu apelo.
Por dignidade. Enxota-a
na rua.
Que se faça a mulher!
E Deus fez a Obstinação
por conexão.
Se nua
não posso, cubro-me com peles.
Uso outro
tom, grosseiro e bem severo.
Ao
chefe pediu: Que tu não me repeles!
Senhor-Guardião.
Faço um pedido austero:
Sou a
Acusação. Ir ao palácio eu quero.
A resposta
é “Não!” - disse o soberano-
de
joelhos no chão. “Desista!” Eu espero!
Esta
permissão seria um grande engano.
Que se faça a mulher!
E o Capricho Deus criou.
E sua obra apreciou...
Vestida
em riqueza e pura beleza!
Usando proeza.
Coberta em seda.
Sutileza
e a mais feminina certeza:
Toda
fortaleza teria a sua queda.
E ao
grandioso pediu audiência.
Quem é essa
mulher tão misteriosa?
Se o
sultão acolher em sua residência
Precisarei
saber até de tua essência.
Mostre
ao Califa que minha transparência
Voa inocente,
como uma libélula.
Que abra
palácios para audiência
Almas
alimentem, diga, sou a Fábula.
“Que e
seja bem vinda em minha morada!”
Pouso vitalício,
flores e perfumes.
Eu esperaria
até de madrugada!
Abra-se
o palácio quebrem os costumes.
Conta a
história que Verdade entrou
É
sempre ouvida com encantamento
Com
vestes de Fábula o saciou
De história
e vida a todo o momento.
CLÁUDIA REGINA LEMES - 2014
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