Esta foi escrita em 1996, fato real, ocorrido em um bairro joseense que eu frequentava e conhecia muitas pessoas. Inclusive o Sr. Joaquim. Escrita a versão original na íntegra. (Clau)
O ANÚNCIO DA IGREJA.
Encontrei-o esbravejando a
caminho da casa do padre. Quis saber o porquê. Ele me explicou:
“O sino
da igreja tocou três vezes em plena segunda feira. E anunciaram pelo microfone.
Uma voz confusa... Sinal de luto, como é de costume, mas, não deu para saber
quem morrera!”
O
senhor Joaquim, já com seus aproximados oitenta anos, frequentador assíduo de
todos os velórios do antigo bairro em que mora, não conseguiu distinguir o nome
do morto anunciado pelo microfone da igreja. Achou desrespeitoso ir até lá
perguntar, e começou a arquitetar um plano para resolver seu problema:
Descobriria por si mesmo.
Pensou:
“Vou começar fazendo visitas para os amigos que sei que estão com o ‘pé na cova’,
aqueles com a idade mais adiantada!!”.
E assim fez. Visitou cinco! Todos gozando da
mais perfeita saúde.
Cansou. Afinal, andou por muitas ruas, enfrentou
o sol...
Mas,
até que foi bom, tomou café, comeu bolo de fubá, contou suas novidades e soube
da vida dos amigos. É claro que omitiu o motivo da visita. Chato demais dizer
que estava por lá para saber se era “ele” (o visitado) que tinha “abotoado o paletó”.
Disfarçou
e foi seguindo seu rumo, já um tanto apreensivo, preocupado. Enquanto andava
pelo bairro a procura do defunto, estava perdendo o melhor do velório.
Voltou
para casa, mas nada de notícias. Ninguém sabia dizer.
Usou
o telefone, disfarçadamente, ligou para conhecidos, candidatos a defunto e, até
para desconhecidos. Todos gozando de saúde.
Continuou
então a saga pela redondeza a na busca do amigo por quem deveria chorar, rezar
terço, lamentar a perda, visitar a viúva caso houvesse...Tentativas frustradas!
Após
o dia todo à procura, já entardecendo, deu por perdido o velório daquele dia,
mas, não ficaria sem saber o nome do morto. Foi até a igreja para perguntar.
Para
seu espanto e fúria, veio saber que o anúncio não se tratava de morte. Era sobre o sumiço de um
animal de estimação: Caso alguém encontrasse o cãozinho fujão e o levassem até a
sua residência seria recompensado.
E foi neste exato momento que encontrei o sisudo resmungando: “Vou reclamar, com o padre, sobre a
falta de dicção da moça que fala ao microfone. Passei o dia procurando um defunto
e se tratava apenas da fuga de um cão!” (Esbravejava!!!!).
CLAUDIA
REGINA LEMES - 1996