domingo, 19 de janeiro de 2014

O ANÚNCIO DA IGREJA.

Esta foi escrita em 1996, fato real, ocorrido em um bairro joseense que eu frequentava e conhecia muitas pessoas. Inclusive o Sr. Joaquim. Escrita a versão original na íntegra.  (Clau)

O ANÚNCIO DA IGREJA.

Encontrei-o esbravejando a caminho da casa do padre. Quis saber o porquê. Ele me explicou:
“O sino da igreja tocou três vezes em plena segunda feira. E anunciaram pelo microfone. Uma voz confusa... Sinal de luto, como é de costume, mas, não deu para saber quem morrera!”
O senhor Joaquim, já com seus aproximados oitenta anos, frequentador assíduo de todos os velórios do antigo bairro em que mora, não conseguiu distinguir o nome do morto anunciado pelo microfone da igreja. Achou desrespeitoso ir até lá perguntar, e começou a arquitetar um plano para resolver seu problema: Descobriria por si mesmo.
Pensou: “Vou começar fazendo visitas para os amigos que sei que estão com o ‘pé na cova’, aqueles com a idade mais adiantada!!”.
 E assim fez. Visitou cinco! Todos gozando da mais perfeita saúde.
Cansou. Afinal, andou por muitas ruas,  enfrentou o sol...
Mas, até que foi bom, tomou café, comeu bolo de fubá, contou suas novidades e soube da vida dos amigos. É claro que omitiu o motivo da visita. Chato demais dizer que estava por lá para saber se era “ele” (o visitado) que tinha “abotoado o paletó”.
Disfarçou e foi seguindo seu rumo, já um tanto apreensivo, preocupado. Enquanto andava pelo bairro a procura do defunto, estava perdendo o melhor do velório.
Voltou para casa, mas nada de notícias. Ninguém sabia dizer.
Usou o telefone, disfarçadamente, ligou para conhecidos, candidatos a defunto e, até para desconhecidos. Todos gozando de saúde.
Continuou então a saga pela redondeza a na busca do amigo por quem deveria chorar, rezar terço, lamentar a perda, visitar a viúva caso houvesse...Tentativas frustradas!
Após o dia todo à procura, já entardecendo, deu por perdido o velório daquele dia, mas, não ficaria sem saber o nome do morto. Foi até a igreja para perguntar.
Para seu espanto e fúria, veio saber que o anúncio não se  tratava de morte. Era sobre o sumiço de um animal de estimação: Caso alguém encontrasse o cãozinho fujão e o levassem até a sua residência seria recompensado.
E foi neste exato momento que encontrei o sisudo resmungando: “Vou reclamar, com o padre, sobre a falta de dicção da moça que fala ao microfone. Passei o dia procurando um defunto e se tratava apenas da fuga de um cão!” (Esbravejava!!!!). 

CLAUDIA REGINA LEMES - 1996

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