terça-feira, 24 de junho de 2014

CARDÁPIO DO DIA: UM PRATO QUENTE, QUE SE COME FRIO.


-Aquele menino malcriado, encardido, sem educação. Várias vezes me mandou tomar no c.
Quase todos lembravam e repetiam em coro: - inesquecível! Como não se lembrar de um garoto tão boca-suja e inconveniente.
-Ele saiu da escola do mesmo jeito que entrou. Afirmava a professora.  -Rezei para aquele ano acabar logo, ele se formar e mostrar para a vida a sua proficiência em malcriação. Larguei mão dele!
Mas o destino quis que eles se reencontrassem. Voltemos aos relatos da professora aos seus iguais sobre o reencontro com o tal estudante:
-[...] Ao fazer menção de sentar-me, o garçom se adianta e oferece-me a cadeira com a delicadeza de um lord! Levanto o olhar e vejo ninguém mais, ninguém menos do que o próprio menino que tanto me mandou tomar no c! Agora homem-feito, limpo, cheiroso e engomado! Não me contive. Chamei o maitre:
- Olha senhor, gostaria que me contasse sobre o milagre! Fizeste o que eu e a escola não conseguimos. Ensinaste educação para este ser que só sabia falar palavrões. Conte-me o segredo!
O maitre por sua vez, também muito educado e tímido. Ficou corado, sorriu amarelo e perguntou se poderia ajudar em “mais” alguma coisa, fugindo da situação embaraçosa. Enquanto isto o menino/garçom nem respirava diante do constrangimento. E assim ela termina a história com os aplausos, satisfação e gargalhadas de seus iguais.
Eu estava entre os ouvintes da história. Não aplaudi, não gargalhei e nem me satisfiz. Fiquei elucubrando como seria um fim menos opressor para o garçom. Transitei da comédia à tragédia: Uma torta na cara, uma resposta precisa, veneno na comida... Mas, não aconteceu. A opressão foi reiterada da escola para a vida:

“Se eu professor não te ensino nada, tudo fica como está (mantém-se o status quo)”.

Ele foi oprimido e desta vez não pode sequer falar um palavrão.
Mas, reza a lenda que no dia seguinte, ela encontra na primeira página de sua agenda um pequeno bilhete anônimo feito cuidadosamente em um guardanapo de papel comum. Estava grafado nele os seguintes dizeres:

Vá tomar no c...!
(CLÁUDIA – 2014)






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