O deboche do caos
Escrevo este texto após ter visto em rede social o vídeo de uma família (incluindo criança) debochando da atual crise pandêmica. Resumindo: o vídeo mostra pessoas com máscaras hospitalares carregando mortos (pessoas dramatizando defuntos), fundo musical e coreografia. Uma criança usando máscara de caveira também participa da “brincadeira” feita a partir do sofrimento das famílias do Brasil e do mundo que perdem seus entes. O último boletim sobre mortos mundial, atualizado há cinco dias (05/04/2020), é de (sessenta e cinco mil duzentas e setenta e duas mortes).
A este respeito pensei primeiramente se em algum outro país do mundo isto aconteceria. Realmente não sei e não me detive em investigar. Preocupei-me, logo em seguida, em pensar o que poderia levar um grupo de pessoas, inseridos em uma determinada sociedade, praticar tal zombaria diante de uma situação que necessitaria no mínimo um pouco de solidariedade e calor humano.
É claro que não há resposta única para explicar um fenômeno tão complexo mas me ponho a pensar sobre o impacto da mídia na formação da população que convive há anos com piadas ofensivas de programas como “pânico”. Tal programa já foi condenado diversas vezes pela justiça vezes a indenizar suas vítimas. Condenações que causam mais popularidade e audiência aos programas e por isto mesmo tais polêmicas não os detém. As consequência destas jocosidades em uma sociedade que não tem hábito leitor e que possui um sistema educacional frágil, acaba sendo a formação de meros espectadores que reproduzem o que assistem sem o mínimo de senso de seletividade e crítica. A mídia na atualidade informa mais do que a escola e a família. Mas se ao menos estas duas últimas fossem instituições que munissem seus entes de capacidade crítica e de discernimento, talvez não seríamos tantas vezes surpreendidos por atitudes tão bizarras como a que vemos no vídeo que aqui critica. Infelizmente estamos em um momento em que a mídia, a família, o governo e a educação estão todas enredadas na mesma malha.
Cláudia Regina Lemes - 10/04/2020.
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